É caso para dizer, “cruzes, canhoto”!

Ao longo dos séculos, todo aquele que era considerado “diferente” da maioria era cruelmente perseguido e condenado pelos demais. E os canhotos, as pessoas que utilizam preferencialmente a mão e o pé esquerdo, encontram-se nesse grupo de “párias”. Assim, ser canhoto, nem sempre foi visto com bons olhos. Durante boa parte da história da humanidade quem escrevia com a mão esquerda sofria de certeza, preconceito cultural, social e religioso. E houve casos até de pessoas queimadas vivas por “tamanho sacrilégio”. O que já foi considerado bruxaria, maldição ou superstição é, tão somente, uma questão de genética.

Foi assim que, na Idade Média, os canhotos, especialmente mulheres sofreram perseguição implacável. No caso delas, todas as acusações de bruxaria baseavam-se na relação estabelecida nos textos antigos entre o lado esquerdo e o pecado e a tentação. Em tempos recentes e durante muito tempo, os pais, professores e as instituições de ensino pressionavam as crianças para usarem a mão direita ao invés da mão esquerda. Assisti a esse “filme” e vi um colega de escola a ser avisado, admoestado e contrariado para não usar a mão esquerda …

Desde sempre a mão direita tem sido associada a todas as coisas boas e puras, enquanto a mão esquerda é sinal de tudo que é profano, mau e inferior. Este simbolismo está presente em quase todas as culturas. Por isso, o lado esquerdo é evitado quase universalmente. Os antigos gregos e romanos consideravam o lado esquerdo inferior e profano, e nos tempos medievais, o uso da mão esquerda era ligado à feitiçaria. Na Nova Zelândia, o lado esquerdo é dedicado a demônios e ao diabo. Os muçulmanos acreditam que Alá fala às pessoas na orelha direita e o diabo na esquerda. Na era medieval, o diabo era representado com a mão esquerda estendida. Entre os índios americanos, a mão direita representa coragem e virilidade e a mão esquerda, morte. Na África, o direito é bom, esquerdo é mau. Em alguns países, uma esposa nunca deve tocar seu marido no rosto com a mão esquerda. Na América do Sul, a direita é boa, é vida, divino e a esquerda é feminina, ruim, má e mórbida. E onde começou tudo isso? Na … costela esquerda de Adão. No passado, como a mão direita sempre foi a dominante, a esquerda era usada para a higiene depois da defecação. Por isso, ninguém levava comida à boca com a mão esquerda, e algumas culturas ainda hoje consideram ofensivo cumprimentar alguém com a esquerda. Até mesmo nos gaúchos, passar a cuia de chimarrão com a mão esquerda é ofensa. E entre os árabes, qualquer texto santo só pode ser tocado com a mão direita. 

Todo aquele que utiliza mais os seus membros esquerdos do que os direitos para os seus afazeres, é vulgarmente conhecido por canhoto, podendo também ser chamado esquerdino, esquerdo e sinistrômano. Mas, afinal, se a maioria das pessoas faz tudo com a mão direita, por que algumas delas nascem com a esquerda predominante? O certo é que continuamos sem saber muito bem por que algumas pessoas são canhotas e outras são destras. 

Estudos revelam que os canhotos representam cerca de 10% da população, pelo que, como a grande maioria é destra, quase todos os aparelhos são projetados para ser usados ​​por estes, dificultando o seu uso e a vida dos canhotos. Como consequência disso, os canhotos acabam por ganhar salários menores darem menor rendimento pelo facto das maquinarias lhes serem adversas. Além disso, também correm maiores riscos de sofrer acidentes, precisamente porque os equipamentos são feitos para ser usados com a mão direita e não com a esquerda. Nascer canhoto num mundo feito para destros não é fácil. Segurar uma caneca ou usar uma tesoura, por exemplo, podem ser tarefas surpreendentemente difíceis para essas pessoas, tal como teclados, facas, abridores de latas, saca-rolhas, serras, tornos e outros objetos produzidos e pensados para usuários destros. Mesmo que alguns objetos sejam inofensivos, como os teclados, serras, tornos, facas e abridores de latas, estes podem causar acidentes graves a pessoas canhotas. Apesar de tudo isso, os canhotos passaram de uma situação em que eram vistos como deficientes (o sinistrum do latim tinha até uma conotação moral), para uma situação oposta em que se começaram a encontrar-lhes muitas, e boas, virtudes. É caso para dizer, “cruzes, canhoto”!

E que é ser canhoto?
Ser canhoto é ser um jogador genial como Diego Maradona ou Messi. Ser canhoto é ser guerreiro como Alexandre, o Grande ou estratega como Napoleão Bonaparte; ser canhoto é ser génio da Matemática e da Física como Newton, da música como Beethoven e até da Física moderna como Einstein; ser canhoto é ser o maior génio da história como Leonardo da Vinci pela multiplicidade de artes e ciências em que se destacou; ser canhoto é ser o melhor piloto da história da F1 como Senna e o melhor guitarrista da história do rock como Hendrix; ser canhoto é ser um génio da pintura como Michelangelo, Rafael ou Picasso; ser canhoto é ser excecional atriz ou ator de cinema como Marilyn Monroe, Julia Roberts, Bruce Willis ou Tom Cruise; canhoto é ser um músico e compositor genial como Paul McCartney, Paul Simon ou Bob Dilan; ser canhoto é ser um pacifista como Gandhi; o canhoto é ser um presidente dos USA como Reagan, Bush, Clinton e Obama; ser canhoto é ser um escritor como Mark Twain. Ser canhoto é ser um tenista como Rafael Nadal. 

Ser canhoto é, enfim, ser o que quiser ser, podendo mesmo vir a ser o melhor, como estes e tantos outros que deixaram o seu nome gravado para a posteridade a letras de ouro, provando que, ser canhoto, só por si, não condicionou ninguém a ser o que sempre desejou. Mas, a perseguição de que foram alvos, deixará uma pergunta no ar que nunca terá resposta: Com a fobia e perseguição aos canhotos, quantos talentos não terão sido sufocados ao longo da história e que a história irá ignorar para sempre?