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Um ananás “de pernas para o ar” …

Com certeza sabe que o ananás é um fruto comestível, mas o que pode não saber é que a imagem de um ananás invertido é um símbolo internacional que, há décadas, é utilizado por praticantes de swing — casais que gostam de ter relações com outros casais – para indicar discretamente o interesse em trocar de parceiros ou participar em atividades swinger. O seu uso é feito sobretudo nas férias ou viagens, em cruzeiros ou resorts, com a imagem num autocolante à porta do quarto ou no vestuário. O objetivo? Evidentemente, é para que os entendedores percebam a mensagem de forma “subtil”. 

Pois bem, talvez por já estar associado a estas “relações”, o ananás ao contrário passou a ser o símbolo da disponibilidade para o engate de homens e mulheres. Por isso, para encontrar o amor da sua vida ou ter uma relação casual pode deixar o Tinder, o Bumble e outras aplicações direcionadas para relações. Chega dos sites de encontros que se podem procurar na net para criar uma relação, seja ela qual for. Não sei se por golpe de marketing ou não, há outra forma que nasceu e cresceu em Espanha, tendo gerado muitos aderentes. Dirija-se a um supermercado Mercadona entre as 19 e as 20 horas e siga as regras. Ponha um ananás invertido no carrinho e, para encontrar as pessoas que estejam ali com o mesmo objetivo, procure outros carrinhos que tenham os ananases nessa posição. Caso queira conhecer o outro cliente, deve provocar o encontrão de carro contra carro e o ‘match‘ está dado. Se correr bem, pode sair do Mercadona com um encontro marcado. É assim que os corredores dos supermercados dessa cadeia estarão a ser usados como locais de engate. Foram muitos os espanhóis que seguiram as regras, responderam ao desafio e foram à procura do amor. Como saber se os dois têm intenções semelhantes? Antes de bater com o carrinho, olhe bem para o da outra pessoa e veja o que é que está lá dentro, além do ananás, pois há códigos específicos com os alimentos: Quem deseja uma relação séria também coloca legumes no carrinho. Mas se atirar com gomas e chocolates lá para dentro, dá a entender que deseja algo casual. Por outro lado, um pacote de alface ou uma pizza congelada, significa que essa pessoa procura uma relação curta, mas não tão passageira assim como um só encontro. Já se o objetivo é encontrar alguém para casar, o que têm de fazer é colocar um melão além do ananás. Se fingir que põe uma embalagem de gaspacho no carro de outra pessoa, também é sinal de interesse. Isto é capaz de ser mais eficaz para conhecer realmente alguém do que as tais aplicações de encontros onde, atrás de um teclado, as pessoas podem ser quem quiserem. E é sempre bom fazer com que larguem os ecrãs e brinquem mais fora de casa …

Esta nova moda de engate ficou conhecida por MercaTinder e tem sido o grande assunto das redes sociais. Começou por ser uma brincadeira, mas tornou-se rapidamente num evento massivo que atrai curiosos e interessados na teoria. Mas pode provocar “congestionamentos” nas lojas do Mercadona, como aconteceu há dias em Bilbau, Espanha, e que obrigou à intervenção da polícia. A intervenção evitou que a situação se agravasse, mas, ao que parece, o caos da tendência continua, com os ananases a ficarem esgotados em muitas lojas, embora não se saiba da quantidade de ananases vendidos ou usados só para o fim, de “engates” concretizados ou recusados, de paixões assolapadas e casamentos …

O “fenómeno” é tão grande que já está a ser usado na publicidade de outras marcas. Assim, apelando à fidelidade dos seus clientes, o Lidl reagiu: “Podes ter encontros onde quiseres, mas casar é aqui”. O ALDI diz que “a lua de mel é aqui”, com referência ao mel da marca própria. A Leroy Merlin aconselha a passarem à fase seguinte. “Se a vida te dá ananases, pensa já na decoração da casa”, enquanto a cerveja Sagres aproveitou “a boleia das regras” para sugerir um encontro às 19 horas no “corredor das bebidas”. O Auchan informa que “há muitas formas de fazer um match perfeito” e mostra vários produtos com base no ananás já que “para quem gosta, é de qualquer maneira”. A Control, com um humor subtil, colocou uma imagem de um abacaxi virado ao contrário com a frase “leva este que são capazes de gostar”. Até a PSP se juntou à festa nas redes sociais com a foto dum polícia junto de um carrinho e o conselho: “Seja na via pública ou no corredor de um supermercado, conduza com precaução, respeite os limites de velocidade e faça uso dos dispositivos de segurança”.

Mas isto de engatar com produtos no carrinho de supermercado pode gerar alguma confusão: Quando uma mulher, ouvir “que belo par de melões!”, fica sem saber se estarão realmente a elogiar os dois que leva para comer ao longo da semana ou se são os “seus”. E se um tipo junto á peixaria lhe perguntar se “vai um linguado”? Vai querer comprar um ou aceita a “oferta”? Para quem fez “match” e sair do supermercado com encontro marcado, vai-lhe ser dado algum talão para eventual “troca do produto” ou direito de reclamação por ser defeituoso? E se o “usou”, ainda pode trocá-lo? Para quem aderir ao desafio, vai mudar radicalmente a sua “roupa de supermercado”, pois se até aqui vai com calças de fato de treino e uma t-shirt foleira para se sentir confortável, agora tem de pensar em usar umas coisitas da moda para conquistar, pois quem sabe se não vai conhecer o amor da sua vida entre as prateleiras dos salpicões e as promoções de queijos flamengos. Aos solteiros mais entusiasmados, aconselha-se que sigam as indicações dos nutricionistas: “Nas idas ao supermercado, nunca vão com fome” …

As notícias dão conta que os corredores do supermercado Mercadona, em Espanha, para além da sua função tradicional, são excelente local de engate, embora ainda não haja estatísticas dos resultados. Não sei, nem posso garantir que este sistema de engate, para já, tenha adesão significativa em Portugal pelo que, se for visto a passear o carrinho nos corredores dum Mercadona com o ananás dentro, de pernas para o ar, não garanto que possa vir a ser abordado numa tentativa de engate ou somente para lhe dizerem que “o seu ananás não está direito”. Neste caso, prepare uma boa desculpa para dizer qual a razão por que “não o tem direito” e saia de cabeça levantada, apesar de, provavelmente, vir com “um grande melão” … 

Tempo de piolhos, lêndeas e … chatos!

As coisas que eu não sei! Na minha santa ignorância, pensava que as infestações de piolhos nas cabeças das crianças portuguesas era coisa do passado, do meu tempo de criança. Que este tipo de infestação tinha sido erradicado no nosso país. Mas, vejam lá, pelo que li em informação especializada, é a segunda doença mais frequente em crianças, depois das constipações. Dizem que cerca de metade das crianças de todos os estratos sociais, é anualmente contaminada com piolhos, parasita que pode provocar doenças na pele, nos olhos e afeta o rendimento escolar. Estes insetos chupadores de sangue que parasitam o couro cabeludo dos seres humanos, não olham a raça, sexo ou religião. Vai tudo a eito e, atenção pais, os cabelos limpos ou curtos também não escapam. O maior contágio é por contacto direto, cabeça contra cabeça.

Se em criança coçasse a cabeça, a primeira coisa que a minha mãe me perguntava era: Tens piolhos? E seguia-se o trabalho de inspecionar a minha cabeça para ver se os bichinhos já se tinham instalado entre o cabelo. A infestação de piolhos era muito comum e compreende-se, já que as regras sanitárias e de higiene eram o que eram. E, quando um aluno os apanhava, era certo e sabido que se espalhavam à turma. E como é que se matavam? Não pensem que havia os remédios e loções tópicas para tratar os piolhos que se compram na farmácia atualmente. Não, nada disso. Em regra eram mortos pela unha do polegar direito da mãe ou da avó. As mulheres eram especialistas em “catar os piolhos e as lêndeas”. Para tal, havia um ritual que seguiam passo a passo: depois de voltar da escola, sentavam a criança à sua frente numa posição mais baixa para poder ver bem a parte superior da cabeça, que “passavam a pente fino” para detetar e eliminar qualquer piolho ou lêndea, caso contrário a infestação voltava a descontrolar-se. É daí que vem a expressão “a pente fino”, porque nessa altura usava-se um pente de dupla face, dentes finos e juntinhos, para apanhar não só os piolhos como as lêndeas – se as lêndeas, que não são mais do que os ovos dos piolhos e ficam agarradas ao cabelo, não forem tratadas e tiradas na totalidade, ao fim do sétimo dia nasce um novo piolho que cresce rapidamente e, a partir do 19º dia, pode pôr mais de 15 lêndeas por dia, durante 10 dias, até morrer ao 32º dia de vida, fazendo com que a infestação se agrave rapidamente.

Os piolhos são insetos parasitas, sem asas, que precisam de hospedeiro como o ser humano para completar o ciclo de vida, podendo alojar-se no couro cabeludo (mais frequente), corpo, pestanas e região púbica e a infestação faz-se por contacto entre cabelos ou partilha de objetos infetados e afeta principalmente as crianças em idade escolar.

Um dia, antes de irmos para as aulas, eu e mais três colegas de escola passamos pelo local onde tinha estado acampado um grupo de ciganos que abalara no dia anterior. Como entre outras coisas deixaram um velho saco de serapilheira, nós andamos a brincar com o saco até irmos para a escola e o resultado foi uma enorme infestação de piolhos. De tal forma que, sempre que tínhamos um intervalo, por mais pequeno que fosse, passávamos o tempo todo a inclinar a cabeça sobre o tampo da carteira e a sacudir o cabelo em cima. Os piolhos caíam no tampo e nós fazíamos o que víamos as nossas mães fazer: matá-los com a unha do indicador. Mas, por mais piolhos que matássemos, não conseguíamos eliminar a infestação até porque as lêndeas ficam agarradas ao cabelo e só em casa a mãe ou outra mulher em sua substituição, tinha paciência e sabia tratar do assunto completamente e com “profissionalismo”.

Anos mais tarde passou a aparecer nas festas e, sobretudo, nas feiras, montado numa motorizada, um homem de Meinedo conhecido por “Ministro”, a vender um pó com o slogan “mata toda a bicharada” e que era aplicado na cabeça das crianças infetadas. Presumo que o pó tenha sido o DDT, o primeiro grande inseticida do mercado de pesticidas, que foi usado na agricultura durante muitos anos para combater várias pragas e que viria a ser retirado do mercado por ser perigoso para o ser humano. O certo é que, entre outras coisas, andou a ser espalhado na cabeça de milhões de crianças e terá matado muito mais piolhos … 

Nesse tempo, também era comum o aparecimento de outra espécie de piolho, geralmente encontrado nos pelos pubianos, conhecidos por “chatos”. Também são sugadores de sangue como os outros e causam comichão na pele. De modo geral, os chatos são transmitidos por meio do contato sexual a partir de alguém que esteja contaminado. E é por conta da transmissão pelo contato íntimo que o chato é considerado uma DST (doença sexualmente transmissível). 

Durante a pandemia aumentaram os relatos das infestações de piolhos nas crianças, mas como ainda existe alguma vergonha em se falar neste assunto em público e em que se saiba quem passou a quem primeiro – um tabu que ainda existe – pode levar a que, se alguém descobrir que um filho tem piolhos, não avise na escola de imediato nem peça ajuda se for caso disso. Muitos pais tratam o assunto com recato sem recurso a apoios existentes para não se exporem como se tal fosse condenável. Dizia um pediatra que “às vezes até parece que isto é terceiro-mundo, mas infelizmente ainda não conseguimos erradicar esta infestação, que

ameaça tornar-se uma “praga”. Para esta situação, contribui o “medo de falar do assunto”, pois para muitos “ter piolhos é sinal de porcaria”. Mas, “não falar sobre o assunto “é contribuir para que a situação se eternize e infernize”.

Confesso que tive piolhos, e muitos, e não morri, nem me envergonhei. Era (e parece continuar a ser) normal. Pelo contrário, matei muitos à “unhada”, embora a maior tarefa fosse da minha mãe. Se os médicos ainda não resolveram de vez o problema em Portugal, é porque os piolhos continuam a andar por aí e a passar de cabeça em cabeça. Por isso, vá por mim, ajude a erradicá-los. Não tenha vergonha de procurar ajuda e avisar a escola se lhe calharem em sorte, porque “quem não procura não encontra”. Nem caia na tentação de meter a cabeça do filho debaixo de água para afogar a bicharada, pois é mais fácil afogar o seu “rebento” do que afogar os piolhos. E, já agora, faço votos para que não “apanhe uma camada de chatos” num dos sítios mais recatados do corpo, porque isso pode significar que “mijou fora do penico”. E aí, a conversa será outra …