Já não se veste a bandeira nacional nem se canta “A Portuguesa” a não ser que haja um jogo da seleção ou quando Portugal se destaca nalgum evento de importância internacional. A última vez que tal aconteceu com uma dimensão verdadeiramente nacional, foi durante o Euro 2004, realizado em Portugal. E, goste-se ou não se goste do homem, o então selecionador nacional Luiz Scolari fez aquilo que se julgava improvável: desafiou e conseguiu puxar o orgulho nacional ao de cima e fazer com que a grande maioria dos portugueses desfraldasse uma bandeira em suas casas ou onde quer que fosse, um dos símbolos de Portugal, “puxando” pela nossa seleção e acreditando que ela poderia ganhar. Ele usou o seu conhecimento prático daquilo que fazem os brasileiros aquando do campeonato do mundo de futebol e até em muitas outras manifestações. Mas “foi sol de pouca dura” pois mal acabou no Euro, as bandeiras foram sendo retiradas das janelas e recolhidas, desaparecendo entre o lixo caseiro. E o orgulho português desapareceu e voltou a ser enterrado com elas, sem que se vislumbre qualquer tentativa de vir a ser ressuscitado, depois de “acusado” de criminoso pelo atual presidente da república e outros políticos de meia tigela …
Uma das recordações que guardo das viagens aos Estados Unidos e que me impressionou muito, foi o facto de a bandeira do país estar, dia e noite, em todos os lugares. Não tem como não ver. Dentro das casas e fora delas, sejam mansões ou simples barracões. Está nas ruas, nos carros, igrejas, lojas e até nos cemitérios. Veem-se nos barcos, pontes, vestuário e nos alimentos. Seja em zonas urbanas, nas rodovias ou no meio do nada, lá está ela com suas cores, listas e estrelas. As escolas americanas, todas, exibem a sua bandeira, grande ou pequena, porque faz parte da vida de todos, sejam americanos, imigrantes ou turistas. E isso significa amor à pátria, independentemente dos partidos políticos, clubes desportivos, raça, cor ou religião. Não é obrigatório, é sim uma questão cultural. O velho na camioneta velha usa a bandeira nacional sempre. E se a maior potência mundial leva isso muito a sério, porque é que nós não aprendemos com eles a ter orgulho nos nossos símbolos e no nosso país?
Dizia-me um americano comum: “Eu tenho uma bandeira desfraldada no meu jardim porque sou patriota e amo este país. E expor a bandeira é a minha maneira de dizer obrigado”. E um brasileiro que trabalha lá: “Eu acho linda a maneira como os americanos defendem o seu país e como eles dizem sempre “que Deus abençoe a América”. O patriotismo dos americanos é inquestionável e a sua fidelidade, respeito e orgulho pela bandeira americana está-lhes no sangue. E ensina-se nas escolas às crianças, todos os dias, com a turma toda de pé com a mão direita sobre o coração, a homenagear a bandeira e a recitar o Juramento de Fidelidade: “Prometo fidelidade à bandeira dos Estados Unidos da América e à República que ela representa, uma nação sob Deus, indivisível, com liberdade e justiça para todos”. Tudo isto hoje seria impensável em Portugal, porque os governantes de esquerda e até de direita, são os primeiros a ter vergonha de defender esses símbolos do país e puxar pelo nosso patriotismo, com medo de perder as clientelas marginais. Dificilmente se fala de amar os símbolos de Portugal, seja a bandeira ou o hino nacional, sem ser acusado de racismo, xenofobismo e mais uns quantos “ismos” do dicionário e não se assume que é só uma questão de ser patriota e de manifestar amor, dedicação e orgulho pela pátria. Nada tem a ver com política, partidos, raças ou religiões. “Gosto do meu país”, sem mais nada, é o que eu quero dizer ao cantar o hino nacional ou empunhar a nossa bandeira. Claro que há partidos, grupos organizados e ideologias que agem como se fossem os seus donos, os únicos a ter o direito de os usar, mas sempre vai haver essa tentação enquanto não houver uma maioria de portugueses a assumir os símbolos como seus, sem qualquer conotação que não seja o amor a Portugal e os use sem complexos ou outra ligação que não seja à sua pátria.
Há já alguns dias que me tenho dado à pachorra de percorrer Lousada e outros concelhos até ao Porto, à procura de bandeiras de Portugal orgulhosa e permanentemente desfraldadas. Para minha desilusão não vi um único edifício público com a bandeira nacional. Nem as câmaras municipais, nem juntas de freguesia, nem escolas do ensino básico ou superior, nem nenhum organismo ou instituição. Zero, zero bandeiras. Provavelmente condicionados por uma legislação envergonhada que despromove a bandeira nacional, seja para poupar o tecido que vem da China (ou as próprias bandeiras como aconteceu em 2004) ou evitar o trabalho de a içar de manhã e arriar antes do pôr do sol pois pode-se constipar se dormir fora. Nem casas particulares ou lojas, cafés, bares, armazéns ou o que quer que seja. Bandeira nacional vi uma a acenar-me do alto de uma vedação, como que a dizer “sou filha única”, talvez esquecida. Vi algumas bandeiras brasileiras através das janelas, que marcam uma diferença. Talvez se a seleção nacional de futebol ainda estivesse na corrida de alguma coisa eu pudesse ver mais algumas a acenar-me. E só no domingo as vi hasteadas em duas câmaras durante o dia. Como diz o povo, “e é para quem quer” …
Napoleão Bonaparte dizia que “o amor à pátria é a primeira virtude do homem civilizado”. E tinha razão por que o patriotismo é o sentimento de orgulho, amor, devoção à pátria e ao povo de que fazemos parte. E apesar do mundo se ter tornado global, nós somos aquilo que vivemos e onde vivemos e nós fizemo-nos aqui.
Ainda há dias dois emigrantes a trabalhar na Suíça me disseram que, mal se reformem, regressam a Portugal e à terra que os viu nascer, porque “esta é a sua casa”, a casa onde nasceram e querem morrer. Muitos deles são quem sente e manifesta mais orgulho no seu país, na sua bandeira e não têm vergonha de a usar e exibir. Porque por cá, pouco ou nada se tem feito, especialmente com as gerações mais novas, o que traz consigo um afastamento cada vez maior dos símbolos nacionais, que têm dividido o povo mais do que o têm aproximado.
50 anos depois da revolução, a letra dos primeiros versos do hino nacional tem perfeita atualidade:
“Heróis do mar, nobre Povo,
Nação valente, imortal.
Levantai hoje de novo,
O esplendor de Portugal” …