É em casa que se dá “educação” …

Fiquei sempre com a imagem gravada na minha memória de estar “enclausurado” na varanda da casa dos meus pais como castigo por ter faltado às aulas nessa manhã sem a minha mãe saber. Mas ela soube e recebi uma lição para a vida. Porque eram os meus pais que me educavam no que era certo e errado, no bem e no mal, nos valores morais pelos quais se regia a sociedade de que fazia parte. E hoje?

Entre o final do século passado e começo deste, a educação passou a ser confundida com instrução e, se falamos de educação, pensamos sempre no ambiente escolar, imaginando que na escola se ensina educação. Puro engano: educação aprende-se com a família. É dentro de casa que, primordialmente, aprendemos boas maneiras e valores fundamentais para viver em sociedade como seres civilizados. Ora, se a família se demite de educar, de mostrar o que é certo e errado, ético e antiético, quando não é o protótipo do péssimo exemplo, que tipo de sociedade estamos a construir? A escola ensina os conteúdos normais que o currículo tem como prioridade: ler, escrever, fazer contas, etc. Pensar que cabe aos professores educar é um erro grave, pois em muitos casos teriam de começar pelos pais das crianças. E o resultado é que é muito difícil fazer passar na sociedade os conceitos do que é ético, correto e justo. Daí que ser correto hoje no nosso país seja sinónimo de “ser idiota”. 

 Rivaldo Silva, professor numa escola de Brasília, colocou no placard da sala de aulas alguns lembretes dirigidos aos pais manifestando a sua opinião sobre aquilo que as crianças devem aprender em casa e na escola, gerando bastante polémica sobre os deveres dos pais na criação dos filhos. Diziam os cartazes: “Lembramos aos pais que: é em casa que se aprendem as palavras mágicas: bom dia, boa tarde, por favor, com licença, desculpe e muito obrigado”. Noutro, lia-se: “É em casa que também se aprende a ser honesto, a não mentir, a ser correto, ser pontual, não xingar, ser solidário, respeitar os amigos, os mais velhos e os professores”. No seguinte: “Ainda é em casa que se aprende a ser organizado, cuidar das suas próprias coisas e a não mexer nas coisas dos outros”. E um quarto: “Também é em casa que se aprende a ser limpo, não falar com a boca cheia e a não deitar lixo no chão”. Um último terminava com este lembrete: “Aqui na escola, ensinamos matemática, português, história, ciências, geografia, inglês e educação física e, apenas, reforçamos a educação que deve ser adquirida em casa”. Será que hoje lembretes destes não fazem falta nas escolas portuguesas e muito mais falta fazem em muitas casas do país? Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai e tido por ser o mais pobre presidente do mundo, mas de elevada estatura moral, dizia para “não esperarmos que os professores consertem as falhas na educação dos filhos”. Porque a educação deve dar-se em casa …

Educação é mais que ler e escrever. É ser ético com todos, fazer o certo sem autorregulação do outro, ser correto sem vigília. Mas não conseguimos. Nós precisamos ter alguém ou algum órgão para nos regular. E não fazemos nada pelo outro sem ganhar algo em troca. Estamos sempre a pensar no “eu” e depois nos “outros”, querendo levar vantagem em tudo. É hoje a nossa essência, num individualismo exacerbado, um egoísmo além do normal e uma preguiça para o trabalho que chega a ser vergonhosa. E aprendemos tudo isso em casa, com a nossa família. Não culpemos a escola que faz o que pode, o que não pode e mais do que lhe é devido. E ainda é criticada, tendo os pais a dificultar-lhe o seu trabalho. 

A escola precisa de ser pensada como meio de aprendizagem, mas muito mais a família como cerne da educação, onde a criança deve aprender uma formação baseada em princípios morais e virtudes. Adriano Lima diz que “a educação aprende-se em casa, aperfeiçoa-se na escola e aplica-se na vida”. Aos pais, pede-se por favor para não inverter os papeis. Porque quando a família tem bons princípios e os usa entre si ao falar com educação como dar o bom-dia ou boa-noite, a agradecer, pedir licença e por favor, a criança absorve os conceitos e leva-os pela vida fora. Mas se o normal é o uso de palavrões, desde o “és burro”, “porco”, quando não o calão mais ordinário, o que acaba por ficar gravado na sua jovem mente não augura nada de bom. E a culpa é de quem?

É bom lembrar que aquilo que se aprende na infância fica para toda a vida e o que não se aprende em pequeno fica muito mais difícil de ser aprendido depois. É o caso de permitir que crianças de tenra idade façam e digam tudo o que querem e que, quando vão crescendo e os pais querem corrigir, já vão tarde e nem a bater-lhes os conseguem mudar. Se tivessem ensinado boas maneiras desde bem pequeninos isso não aconteceria, nem precisariam de chegar a tal extremo.

Diz-se que “de pequenino se torce o pepino” e tal ditado tem uma excelente aplicação na educação das crianças. Mas é necessário e imperioso que os pais eduquem seus filhos ensinando-lhes as regras básicas de educação, de boas maneiras e de boa convivência desde tenra idade como prioridade sobre tudo o mais, não delegando nos professores nem na escola tal responsabilidade, porque não é essa a sua função. E devem fazê-lo não só pela palavra, mas mais ainda pelo exemplo. É o que somos que ensina às crianças os valores e condutas que privilegiamos em sociedade. Como pode um aluno demonstrar respeito pelo seu professor se os pais fizerem rigorosamente o contrário? E o respeito, como outros valores, aprende-se em casa em primeiro lugar …