Monthly Archives: June 2024

Um luxo a que não nos podemos dar

Todos nós temos uma ideia mais ou menos formada do significado de luxo e do que se quer dizer com “luxo asiático”, “viva o luxo” ou “eu posso dar-me ao luxo de …” e outras mais, mas grande parte das vezes não imaginamos os “limites dos excessos” a que o luxo conduz. 

Como dizia Coco Chanel, “o luxo é uma necessidade que começa quando a necessidade finda”. Apesar de ser supérfluo, o luxo é um fenómeno que atravessa toda a história da humanidade. Durante séculos e séculos, a pompa, o parecer, o supérfluo, a ostentação, a grandeza, o requinte e a futilidade não têm parado. As definições de luxo envolvem as noções de sumptuosidade, pompa, ostentação da riqueza, alto preço e raridade, normalmente associados a excesso de riqueza e materialismo. E são acompanhadas por outras noções como vaidade, estilo de vida, códigos, comportamentos e requinte. Hoje em dia procura-se substituir o termo “luxo” pelos de “prestígio” e “alto nível”, sendo aplicados a produtos mais inacessíveis, o que faz com que, sinteticamente, um artigo de luxo seja caracterizado pela sua raridade e preço elevado, apesar de Giles Lipovetsky afirmar que “nem tudo o que é caro é luxo, mas todo o luxo é caro”. 

Ostentação, excesso e desperdício foram as palavras associadas ao luxo durante muito tempo, a necessidade de representação inerente à natureza humana e ao desejo de se tornarem notados, fosse através de objetos, vestes ou plumagens. Se no começo da nossa era o luxo se limitava a produtos já inventados – perfumes, vestuário, acessórios, joias, etc., – mediante o progresso tecnológico, o fenómeno alastrou dos produtos para os serviços e marcas, representando um segmento de mercado que movimenta números astronómicos. E é assim que nos nossos dias se passou de produtos de consumo para as moradias, apartamentos, barcos, aviões, viagens à volta da terra ou aos locais mais exóticos, safaris, tratamentos exclusivos, tudo aquilo que se possa imaginar e mais ainda, com o rótulo de “Luxo”, para que não restem dúvidas sobre o valor da fatura e ao prestígio de quem paga.

A uma conclusão comum parece terem chegado todos os estudiosos do “luxo”: o mundo seria um lugar mais triste e desinteressante se não fossem os magníficos palácios que reis esbanjadores mandaram construir, nem sempre com objetivos confessáveis. E não vale a pena dizer quanta fome terá passado o povo para que isso acontecesse …

Diz-se que o luxo apenas cria apetite para mais luxo e que, como se trata de um desejo que não é natural, é insaciável. E que o melhor será não o alimentar, pois apenas se fará maior e mais exigente. Nos Sermões, o padre António Vieira diz-nos que “todos querem mais do que podem, ninguém se contenta com o necessário, todos aspiram ao supérfluo e isto é o que se chama de luxo”. Será assim? Uma coisa parece certa: “O luxo atrai a inveja e parece nunca atrair o respeito”.

O mercado do luxo é fascinante. Põe a maioria das pessoas a sonhar com algo que, na realidade, desconhece ou a que não pode aceder. E a verdade é que há quem faça de tudo para alcançar o inalcançável que torna o luxo desejável porque está no topo, sejam roupas, móveis, cosméticos, hotéis, carros, joias, eletrónica, vinhos ou o que for. Daí a frase de autor desconhecido: “As pessoas gastam o dinheiro que não têm, para comprar coisas de que não precisam, para impressionar pessoas com quem elas não se importam”. 

É normal que o luxo esteja sempre ligado a uma posição social mais elevada, o que supõe que uma pessoa se deve distinguir dos outros ou mesmo se mostre superior, “só porque tem um nível de consumo maior, o consumo sumptuário, algo que se exibe, algo que se ostenta”. Curiosamente, nos países nórdicos existe uma pequena regra, não escrita, uma espécie de fenômeno cultural da região, segundo a qual “ostentar é feio” e que as pessoas, mesmo as escandalosamente ricas e bem-sucedidas, devem restringir o consumo e o estilo de vida para não se “desenquadrarem” do resto da sociedade. Não sendo nós um país de super-ricos, e os que temos fazem mais questão de o ser lá fora, entre os “bem-remediados” que andam por aí há bastantes e mais que suficientes que não se coíbem de mostrar com ostentação o pouco ou muito que dizem ter, através da “exibição do dinheiro” em coisas que só este compra, ainda que seja a prestações. Porque tudo vale para mostrar que se é mais do que o comum dos cidadãos, ainda que com coisas fúteis, supérfluas e desnecessárias. E recordo-me de alguém que andou muito tempo a poupar para comprar uma certa bolsa da marca Louis Vuitton em segunda mão, como se isso fosse a coisa mais importante da sua vida …                                                                      Ao longo da vida a sociedade fez-nos acreditar que luxo era o raro, o exclusivo, tudo aquilo que nos parecia inalcançável. Porém, agora nos damos conta, sobretudo depois de uma pandemia que vitimou muitos dos que nos rodeavam, que luxo são certas pequenas coisas que não sabíamos valorizar. Foi então que descobrimos que luxo é estar são e de boa saúde. Que luxo é não ter de entrar no hospital como doente. Que luxo é passear junto ao mar e sentir a maresia. Que luxo é poder sair à rua quando se quer e respirar sem máscara. Que luxo é poder reunir-se com a família e os amigos. Que luxo são os olhares e que são os sorrisos. Que luxo são os gritos de alegria dos filhos. Que luxo são os abraços e beijos. Que luxo é desfrutar de cada amanhecer. E que luxo é o privilégio de estar vivo. Afinal, tudo isso é um luxo e, ao que parece, não sabíamos. Aliás, ao que parece, voltamos a esquecer do valor dessas pequenas coisas, um luxo a que não nos devemos dar …

É em casa que se dá “educação” …

Fiquei sempre com a imagem gravada na minha memória de estar “enclausurado” na varanda da casa dos meus pais como castigo por ter faltado às aulas nessa manhã sem a minha mãe saber. Mas ela soube e recebi uma lição para a vida. Porque eram os meus pais que me educavam no que era certo e errado, no bem e no mal, nos valores morais pelos quais se regia a sociedade de que fazia parte. E hoje?

Entre o final do século passado e começo deste, a educação passou a ser confundida com instrução e, se falamos de educação, pensamos sempre no ambiente escolar, imaginando que na escola se ensina educação. Puro engano: educação aprende-se com a família. É dentro de casa que, primordialmente, aprendemos boas maneiras e valores fundamentais para viver em sociedade como seres civilizados. Ora, se a família se demite de educar, de mostrar o que é certo e errado, ético e antiético, quando não é o protótipo do péssimo exemplo, que tipo de sociedade estamos a construir? A escola ensina os conteúdos normais que o currículo tem como prioridade: ler, escrever, fazer contas, etc. Pensar que cabe aos professores educar é um erro grave, pois em muitos casos teriam de começar pelos pais das crianças. E o resultado é que é muito difícil fazer passar na sociedade os conceitos do que é ético, correto e justo. Daí que ser correto hoje no nosso país seja sinónimo de “ser idiota”. 

 Rivaldo Silva, professor numa escola de Brasília, colocou no placard da sala de aulas alguns lembretes dirigidos aos pais manifestando a sua opinião sobre aquilo que as crianças devem aprender em casa e na escola, gerando bastante polémica sobre os deveres dos pais na criação dos filhos. Diziam os cartazes: “Lembramos aos pais que: é em casa que se aprendem as palavras mágicas: bom dia, boa tarde, por favor, com licença, desculpe e muito obrigado”. Noutro, lia-se: “É em casa que também se aprende a ser honesto, a não mentir, a ser correto, ser pontual, não xingar, ser solidário, respeitar os amigos, os mais velhos e os professores”. No seguinte: “Ainda é em casa que se aprende a ser organizado, cuidar das suas próprias coisas e a não mexer nas coisas dos outros”. E um quarto: “Também é em casa que se aprende a ser limpo, não falar com a boca cheia e a não deitar lixo no chão”. Um último terminava com este lembrete: “Aqui na escola, ensinamos matemática, português, história, ciências, geografia, inglês e educação física e, apenas, reforçamos a educação que deve ser adquirida em casa”. Será que hoje lembretes destes não fazem falta nas escolas portuguesas e muito mais falta fazem em muitas casas do país? Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai e tido por ser o mais pobre presidente do mundo, mas de elevada estatura moral, dizia para “não esperarmos que os professores consertem as falhas na educação dos filhos”. Porque a educação deve dar-se em casa …

Educação é mais que ler e escrever. É ser ético com todos, fazer o certo sem autorregulação do outro, ser correto sem vigília. Mas não conseguimos. Nós precisamos ter alguém ou algum órgão para nos regular. E não fazemos nada pelo outro sem ganhar algo em troca. Estamos sempre a pensar no “eu” e depois nos “outros”, querendo levar vantagem em tudo. É hoje a nossa essência, num individualismo exacerbado, um egoísmo além do normal e uma preguiça para o trabalho que chega a ser vergonhosa. E aprendemos tudo isso em casa, com a nossa família. Não culpemos a escola que faz o que pode, o que não pode e mais do que lhe é devido. E ainda é criticada, tendo os pais a dificultar-lhe o seu trabalho. 

A escola precisa de ser pensada como meio de aprendizagem, mas muito mais a família como cerne da educação, onde a criança deve aprender uma formação baseada em princípios morais e virtudes. Adriano Lima diz que “a educação aprende-se em casa, aperfeiçoa-se na escola e aplica-se na vida”. Aos pais, pede-se por favor para não inverter os papeis. Porque quando a família tem bons princípios e os usa entre si ao falar com educação como dar o bom-dia ou boa-noite, a agradecer, pedir licença e por favor, a criança absorve os conceitos e leva-os pela vida fora. Mas se o normal é o uso de palavrões, desde o “és burro”, “porco”, quando não o calão mais ordinário, o que acaba por ficar gravado na sua jovem mente não augura nada de bom. E a culpa é de quem?

É bom lembrar que aquilo que se aprende na infância fica para toda a vida e o que não se aprende em pequeno fica muito mais difícil de ser aprendido depois. É o caso de permitir que crianças de tenra idade façam e digam tudo o que querem e que, quando vão crescendo e os pais querem corrigir, já vão tarde e nem a bater-lhes os conseguem mudar. Se tivessem ensinado boas maneiras desde bem pequeninos isso não aconteceria, nem precisariam de chegar a tal extremo.

Diz-se que “de pequenino se torce o pepino” e tal ditado tem uma excelente aplicação na educação das crianças. Mas é necessário e imperioso que os pais eduquem seus filhos ensinando-lhes as regras básicas de educação, de boas maneiras e de boa convivência desde tenra idade como prioridade sobre tudo o mais, não delegando nos professores nem na escola tal responsabilidade, porque não é essa a sua função. E devem fazê-lo não só pela palavra, mas mais ainda pelo exemplo. É o que somos que ensina às crianças os valores e condutas que privilegiamos em sociedade. Como pode um aluno demonstrar respeito pelo seu professor se os pais fizerem rigorosamente o contrário? E o respeito, como outros valores, aprende-se em casa em primeiro lugar …

“Quando eu tiver tempo …”

Andei cerca de um ano ou mais dizendo a mim mesmo: “Quando eu tiver tempo vou contactar o Zé e o Rui para almoçarmos e recordar alguns dos momentos que vivemos juntos na ACML e, mais tarde, no Clube Automóvel de Lousada”. Até que um dia decidi que era tempo de ter tempo para lhes telefonar – sim, porque quando queremos mesmo, nós “temos tempo”. Telefonei primeiro ao Rui que concordou de imediato, mas perguntou-me se já falara com o Zé porque ouvira dizer que ele estava adoentado. Depois, liguei ao Zé, que não atendeu a chamada, mas devolveu-ma logo no minuto seguinte. Quando o informei da razão do telefonema, respondeu-me que gostava muito de se encontrar connosco, mas nesse momento estava no IPO no Porto à espera dos resultados de uns exames que lhe fizeram e, logo que soubesse, telefonava-me para combinar o dia do encontro. Menos de duas semanas depois foi a enterrar, sem “termos tempo” para um simples almoço e de pôr a conversa em dia. Porque andei demasiado tempo a dizer “quando eu tiver tempo” …

É verdade que todos nós dizemos muitas vezes um “quando eu tiver tempo”, como condição à promessa de que vou cuidar de mim, vou fazer exercício, vou lavar sempre os dentes após cada refeição ou vou comer peixe, quinoa, papaia e beber chá verde por questões de dieta. Também continua a ser uma condição indispensável para fazer todos os exames atrasados que o médico prescreveu, a tal peregrinação a Santiago de Compostela sonhada há muitos anos, levar os filhos à Disneylândia ou ao Jardim Zoológico de Lisboa ou fazer uma simples visita à tia Miquinhas que está no Lar há alguns anos. “No dia em que eu tiver tempo” ficarei em casa com os meus pais, irmãos, sobrinhos, cunhados e a minha mulher, em vez de marcar reuniões de trabalho num café da vila, que de trabalho pouco tem, e divertimo-nos a ver as fotografias da última viagem enquanto comemos piza. No dia em que eu tiver tempo, não comprarei presentes à pressa nem vou escolher garrafas de vinho para oferecer das que tenho na minha garrafeira e escreverei longos cartões nos aniversários dos familiares e amigos a dizer tudo aquilo que sinto. E “quando eu tiver tempo”, vou escrever um diário para o meu filho descrevendo a emoção de todos aqueles momentos marcantes do seu crescimento, de quando disse “papá” pela primeira vez, gatinhou ou se pôs de pé, de cada uma das noites que passei com ele ao colo quando estava doente, que lhe entregarei quando fizer 18 anos. No dia em que eu tiver tempo vou dar o tempo aos meus filhos, porque devem ser a minha prioridade …

“Quando eu tiver tempo eu farei …” é uma das frases que mais se ouve e, como há um fascínio inegável pelo tempo, já foi transformado em verso, prosa e até cantado. Muitos gostariam de segurar o tempo com as mãos, mas ele escorre por entre os dedos, como a água. Os felizes, gostavam de o poder congelar, os que sofrem rezam para que passe depressa e os apaixonados adorariam eternizá-lo. Ora, o tempo é a desculpa perfeita para as nossas irresponsabilidades pois “não tive tempo”. É fácil. Basta dizer que estamos sem tempo para nada. São os estudantes a dizerem que não tiveram tempo para estudar, os trabalhadores que não chegou para fazer uma tarefa, os professores que não tiveram tempo de dar a matéria toda. E até eu me desculpo nalgumas ocasiões com a falta de tempo para escrever a crónica da semana. E será que me faltou o tempo ou não soube geri-lo da melhor forma? 

“Quando eu tiver tempo” é a expressão que usamos frequentemente para mentir a nós próprios, para nos desculparmos por não fazer o que é preciso fazer e para aliviar o peso de consciência pela nossa incapacidade de organizar, agir e fazer o que nos é devido. Ao dizer que não temos tempo, confessamos que somos negligentes com o tempo que nos é dado, não o gerindo com prudência para não haver tempo perdido. Porque o tempo é escolha de prioridades e tanta vez fazemos escolhas erradas. “Quando eu tiver tempo vou visitar a Tia Carolina que está doente”, mas, entretanto, passo horas em frente da televisão a ver programas estúpidos e sem ter tempo para a visitar? O que está errado é dar prioridade à televisão e não ao que importa! Já Pitágoras terá dito: “Com organização e tempo, acha-se o segredo de fazer tudo e bem feito”.

Nunca os humanos tiveram tanto tempo como aqueles que vivem neste nosso tempo e, por estranho que pareça, nunca tiveram tanta falta dele como agora. “Bem queria, mas ando sem tempo para isso”. “Agora não dá. Quando eu tiver tempo eu faço”. “Precisava que o meu dia tivesse mais algumas horitas”. “Não dá tempo para fazer tudo hoje”. Nunca vivemos tão angustiados pela falta de tempo, quando temos muitos milhares de horas mais que os nossos antepassados, mas mesmo assim o tempo não chega. Temos meios de transporte e de comunicação mais rápidos do que nunca e andamos sempre com pressa, mas atrasados. O que está errado com tudo isto? Será que se os dias tivessem mais umas horitas resolvíamos todos os problemas? Terminavam os assuntos pendentes? Compensavam-se os atrasos? E serviam para acabar com o “quando eu tiver tempo …”? Se calhar não, pois tendemos a ser “procrastinadores”, um palavrão que serve para identificar os que deixam sempre as coisas para depois, para amanhã. E, confesso, também sou um “procrastinador”, talvez à espera que o tempo resolva algumas coisas. E não é que às vezes resolve mesmo? Mas, pensando bem, até um relógio parado consegue estar certo duas vezes ao dia …

Os animais incríveis deste planeta …

O nosso mundo está cheio de animais incríveis. Inteligentes, velozes, furiosos, extraordinários, belos e com uma série de qualidades que deixa qualquer um espantado. Ao pé deles, nós que nos consideramos a espécie “dona disto tudo”, afinal “estamos a milhas de distância” e sem hipóteses de nos podermos comparar. Mas agimos quase sempre como se fossem nossos inimigos e não parte integrante do mundo em que vivemos, nós e eles, com o mesmo direito de existir. Basta pensar que somos o único animal que mata “por prazer, por desporto ou até porque sim”. Todos os outros matam para comer, para se imporem como líderes da manada ou como final do ato sexual de reprodução.

Se fosse por uma questão de tamanho, estamos longe do urso polar com os seus 700 quilos e 2,60 metros de altura, para não lembrar o elefante marinho nos seus 3,50 m e 5 toneladas e a muitas milhas da baleia azul e dos seus 30 metros de comprimento e 160 toneladas de peso, apesar de se alimentar só com uma “dieta light” de peixinhos e pequenos crustáceos – nada de doces. É obra. Se for pelo olfato, nós não conseguimos apercebermo-nos se temos água a 2 ou mesmo a 1 metro de distância, enquanto os elefantes são capazes de a farejar a 20 quilómetros. E sabe-se que as mariposas detetam fêmeas virgens a 11 Kms. Como é possível?

Usain Bolt foi o homem mais rápido do mundo durante apenas 100 metros de distância, que correu à velocidade de pouco mais de 37 quilómetros por hora. Mas a chita (guepardo) alcança os 115 Km por hora e é capaz de atingir os 100 km/h em apenas 3 segundos, feito comparável aos carros mais potentes do mundo. E se pensarmos que o falcão peregrino chega a alcançar em voo picado velocidade de até 330 kms/hora, nem queremos acreditar. Já os albatrozes conseguem percorrer 300 Kms por dia em voo planado aproveitando a energia do vento e sem necessidade de bater as asas. Preguiçosos espertos …

Nós, seres humanos, temos de usar protetor solar quando expostos ao sol, para evitar queimaduras. E compramos toneladas de produtos para nossa proteção. No entanto os hipopótamos apesar de também precisarem de proteger a pele, fazem-no segregando o seu próprio filtro solar, o que é mais prático e económico. Não devíamos ter a mesma capacidade? 

Se um cachorro molhado consegue sacudir 70% da água do seu pelo, porque será que eu, por mais que me abane depois do banho, só tiro 10% ou menos? Já as girafas segregam um odor corporal potente, que melhora a sua vida social ou seja: quanto mais o macho fede, mais saudável e atraente parece ao outro sexo. É a atração pela negativa. Mas o Diabo-da tasmânia fede mais que qualquer outro animal, capaz de espantar qualquer inimigo. Afinal, o “chulé” tem alguma utilidade.

O basilisco é uma espécie de lagarto que vive perto de rios e lagos e 

a sua característica mais famosa é a habilidade de correr sobre a água sem se afundar, coisa que nenhum homem é capaz de fazer. Já o besouro-hércules é considerado o ser vivo mais forte do mundo, pois consegue carregar até 850 vezes o seu peso. Para me comparar a ele, teria de ser capaz de aguentar cargas de mais de 62 toneladas. Ao pensar nisso, sinto-me “esmagado”. As baratas têm a reputação de ser a espécie com mais probabilidade de sobreviver ao apocalipse. Por mais incrível que pareça, conseguem resistir à decapitação e viver semanas sem cabeça. O mais próximo que estamos é quando nos perguntam “onde é que tinhas a cabeça quando fizeste isto”? 

O record do salto em altura pertence ao cubano Javier Sotomayor há mais de 30 anos, quando alcançou a proeza de saltar 2,45 m, mas que é cerca de metade da capacidade que o puma, conhecido no Brasil como onça-parda, atinge ao chegar a 5 metros, fruto do impulso das suas longas patas traseiras. Mas há uma cigarra que salta 400 vezes o seu tamanho. Imagina um atleta a saltar 200 metros de altura? Ora, o camaleão não salta, mas destaca-se pela capacidade de se camuflar ao mudar de cor para se confundir com o ambiente onde se encontra e pode mover um olho para cada lado de forma independente. A arte de camuflagem já muitos seres humanos têm, fazendo-se passar pelo que não são, mas a outra bem necessária nos seria nalgumas alturas para “ter um olho no burro e outro no cigano”. 

Estamos muito distantes de ter a visão das águias e dos gaviões, de ter a beleza de muitas aves e até do leão branco com os seus olhos azuis. Conseguimos até gritar, mas não tão alto como o bugio da América Central que se faz ouvir a 5 quilómetros de distância. Não temos a capacidade de ecolocalização que permite aos morcegos orientarem-se no escuro, nem a de algumas rãs que podem ser congeladas e depois de descongeladas continuarem vivas, tal como as de muitos outros animais que habitam este planeta, onde o mosquito, esse inseto minúsculo, é tido como recordista de mais mortífero da Terra pois chega a matar mais de um milhão de pessoas por ano, não diretamente, mas através dos vírus e outras doenças que transporta e transmite aos seres humanos. Mas, todos nós sabemos que existe um animal muito mais perigoso: O ser humano. Apesar da inteligência, humanidade, sensibilidade, solidariedade e tantas qualidades que temos enquanto seres, causamos o declínio, a destruição e até a extinção de muito mais espécies que qualquer outra forma de vida. Reduzimos o rinoceronte de Java a um dos mais raros mamíferos da Terra, pois já só existem menos de 60. Colocamos à beira da extinção o coala, a onça pintada, a baleia-azul, o gorila da montanha, o pinguim africano, o urso polar e tantas outras espécies com a nossa febre de caçadores insaciáveis. Talvez agora esteja na altura de estabelecer um novo record: O de sermos capazes de salvar da extinção o maior número de espécies, para garantir que no futuro continuaremos a desfrutar do convívio dessa infinidade de animais incríveis, não só nós, mas as gerações que se seguirão através dos tempos …