Pelo número de ricos que há em Portugal percebemos que se lê muito pouco neste país. É verdade, se fossemos leitores assíduos e atentos a tudo o quanto está publicado sobre “como ficar rico”, tínhamos mais hipóteses (e até obrigação) de chegar àquele patamar sonhado pela maioria dos que querem ser “podres de rico”, para se darem ao luxo das extravagâncias que criticam nos que já o são. Mas uma coisa é ser “um homem rico” e a outra “um rico homem”. As duas são diferentes, embora saibamos bem qual delas é a preferida pela maioria …
Mas, se é um dos que sonha chegar um dia ao clube dos ricos ou até ao de milionário, vá a uma livraria e compre “A ciência de ficar rico” porque o autor, depois de décadas a estudar a mente humana, veio a concluir que uma atitude positiva faz milagres. E o milagre pode vir a acontecer consigo! Se quer conseguir chegar ali num ano, tem o livro “como ficar rico ou não em 12 meses”. Há os que dizem que, para se subir financeiramente, tudo começa na mente. Assim, vá lá e compre “Pense e fique rico” ou “Pense rico para ficar rico – As 4 regras de ouro para ter sucesso nos negócios”, já para não falar de “Os segredos de uma mente milionária”. Mas há muitos mais livros e só precisa de consultar o “dr. Google” para encontrar outros títulos como nos casos “o milionário mora ao lado”, “trabalhe 4 horas por semana” ou ainda “dinheiro: os segredos de quem o tem”, para além de uma vasta gama de títulos sobre o tema onde encontra tudo aquilo que precisa para seguir o caminho dos milionários. Um dos autores afirma até que o conselho mais perigoso que se pode dar a um filho será: “Vai para a escola, tira notas altas e depois procura trabalho seguro”. É que agora não existe emprego garantido para ninguém, nem sequer para o filho do patrão.
Numa utilização perversa da mente, “os que não sabem governar-se são precisamente os que mais ambicionam governar os outros”. Ora, o brasileiro conhecido por Marquês de Itararé dizia que “os vivos, são e serão sempre cada vez mais governados pelos mais vivos”, o que só vem confirmar a teoria anterior. Esta pode ser também uma via, um tanto alternativa e nada ortodoxa, para ficar rico. Apesar de não vir no manual de instruções, sabe-se que nas últimas décadas tem sido o caminho percorrido por muitos “candidatos” para atingir o tal “nível de vida” que todos gostariam de ter, caminho esse que normalmente é iniciado nas “Jotas” (ou não) e depois é tudo questão de expediente, espírito alpinista e oportunismo, além duma ambição desmedida na escalada à “torre do dinheiro” …
Nesta coisa de querer acumular muita massa, os mais conservadores dão como conselho aos que querem chegar a rico para “trabalharem muito, ganhar bem e gastar muito menos do que ganham. Sempre”. Já Henry Ford dizia: “Não nos tornamos ricos graças ao que ganhamos, mas com o que não gastamos”, sabedoria que se perdeu no tempo.
Quando se está sempre de roupas novas, trocando de smartphone, computador e automóvel a cada seis meses, esbanjando naquilo que é tido por supérfluo, vale a pena perguntar: “O dinheiro sobra-lhe”? Noutras palavras: Embora seja tentador comprar luxo e viver uma vida de rico (já sei que somos todos merecedores), fechar os olhos e ir em frente pode empurrar qualquer um para as chamadas “ciladas financeiras”, como é o caso dos empréstimos fáceis, mas com juros altos e que até exigem pagamentos adiantados. Se quer mesmo vir a ser rico, comece por viver dentro das suas possibilidades, pois gastar o que não se tem pode descambar e ser perigoso. E não se esqueça de ganhar dinheiro para subir até ao clube dos tais a que quer pertencer.
Todos os livros não deixam de acrescentar uma outra recomendação: “Tanto ou mais difícil do que conquistar riqueza, é conseguir mantê-la”, porque não é rico quem mais ganhou, mas quem mais poupou. E qualquer um pode comprovar a veracidade deste último conselho, bastando olhar para o que se passa à sua volta. Verá os exemplos que sobram bem perto de si, de gente que muito teve e que deixou que a fortuna se lhe escapasse facilmente, não seguindo tal recomendação. Fizeram rigorosamente o contrário, optando por gastar mais do que ganhavam como se não houvesse amanhã nem fundo no saco. As consequências disso deram na eterna pergunta: “Como foi possível”?
Uma das últimas estatísticas dava os Estados Unidos como o maior produtor de milionários do mundo e julgo não haver dúvidas de que continua a ser o melhor país para se sonhar e concretizar esse sonho. Os últimos dados dizem que há lá quase vinte milhões de milionários (6% da população), enquanto na China não passam dos cinco milhões (0,3% da população).
Quanto a Portugal, dizem que temos cerca de cento e vinte mil milionários (1,2% da população). A nossa fábrica de fazer ricos, sendo proporcionalmente melhor do que a chinesa (que tem vindo a crescer), se comparada com a americana não é grande coisa, pois desde 74 fizemos mais questão de tentar acabar com os ricos (ou, pelo menos, reduzi-los), em vez de optarmos por querer acabar com os pobres. Não sei quem faz parte da lista nacional, mas, sem qualquer falsa modéstia, gostava que o meu nome também lá estivesse. Não propriamente pelo que isso queria dizer ao nível da minha conta bancária e das benesses a que me podia permitir, mas só porque, desde que me casei, o meu nome completo, com morada e até número de telefone, sempre esteve presente na lista mais conhecida do país: A Lista Telefónica. Por isso, sinto-me assim como que “órfão de listas” desde que deixou de ser publicada. Ora, se agora fizesse parte da lista dos mais ricos de Portugal, podia imprimi-la em papel couché a 350 gramas, com brilho e friso dourado, para a exibir como se fosse um diploma. Dava-me outro estatuto. Sim porque a “massa” tem um poder tal que até consegue transformar um “grande traste” num homem cheio de virtudes e de quem (quase) toda a gente quer muito ser “amigo do peito”. E vá-se lá saber porquê …
Para quem resolver deixar de ser preguiçoso e dedicar-se desde já à leitura para conseguir encontrar o caminho da riqueza, só faço uma última recomendação que deve ter presente ao longo da luta que vai empreender e que nunca deverá esquecer para não pensar que ser rico tem todos os privilégios e mais um. Não, não tem. Por isso, não desanime. Porque os ricos, por mais ricos que sejam, não conseguem comer mais por isso. E, lembre-se sempre que os tais ricos … também morrem. Ou pensava que não?