O papel higiénico foi uma criação do século XX. E, se há quem faça do rolo de papel higiénico uma grande “serpentina” para festejar o carnaval ou a vitória do clube do coração, para a maioria não passa de uma longa tira de papel fino destinado à limpeza do “buraco mais importante do homem”, numa zona do corpo que, na gíria popular, é conhecida por padaria, pacote, traseiro, assento, rabo, “sim senhor”, bunda e outros nomes mais ou menos artísticos. Mas, nem sempre as pessoas tiverem o privilégio de terem papel macio para a “limpeza”. Antes, muito antes, os gregos usavam pedras ou argila, na chamada “limpeza mineral”. Os romanos, já utilizavam esponjas embebidas em água, de uso coletivo, enquanto os árabes faziam da mão esquerda (por ser considerada impura) o “material de serviço”. Enfim, por esse mundo fora, quase tudo servia para a “função”: Pedras, folhas de maçarocas e barbas de milho, erva, penas de aves, folhas de diversas plantas e até cascas de mexilhão (também deviam combater a comichão…).
O primeiro “papel higiénico” que conheci na casa dos meus pais não era mais do que pequenos retângulos do jornal O Primeiro de Janeiro que o meu pai comprava todos os dias. Era a alteração do papel como meio de informação para papel como material de limpeza, naquilo a que hoje chamamos reciclagem… Quando a tinta de impressão era de fraca qualidade, o mínimo contacto com a água fazia com que as letras aparecessem reproduzidas no “pacote” do utilizador. Mas não dava para ler…
Terá sido na China que começou a ser usado papel em tal serviço, apesar de serem os americanos a criar o papel higiénico na forma como hoje o conhecemos. Mas há quem discorde da sua utilização com este objetivo. Os indianos dizem que o papel não limpa bem e, por isso, usam a lavagem como método alternativo. Assim, os mais abastados tomam o duche higiénico depois da “descarga”, enquanto os pobres se servem do balde com água e caneco… Os brasileiros copiaram parte deste procedimento pois criaram condições para lavar o traseiro a “jacto de mangueira”, sem terem de sair da sanita.
E dizem os entendidos em hemorroidal, que é uma boa forma de não o irritar…
Nos primeiros rolos, o papel era áspero e mal amanhado. Mais parecia lixa grossa com boa capacidade de “limpeza”, incluindo dos pelos locais… Era a chamada “limpeza total”, hoje tão em voga nos “metrossexuais”. Mas, pouco a pouco, o papel amaciou e tornou-se cada vez mais fino. Tão fino, que era frequente logo na primeira passagem pela “zona de guerra”, um ou dois dedos aparecerem do outro lado da folha de papel, normalmente em estado deplorável… Para eliminar esse “pequeno inconveniente”, as marcas lançaram o papel com duas e até três folhas, embora o povo, mais avisado, já não caía na esparrela. Em vez de utilizar uma só folha, enrolava umas poucas à volta da mão até ter uma camada espessa que aguentasse a pressão dos dedos (esta prática é mais comum quando quem usa não é quem paga…). O que é bom para as marcas…
No entretanto, chegaram os papéis coloridos, às flores, em relevo (talvez para “agarrarem” melhor) e com aroma perfumado. Nunca percebi porquê (Que eu saiba, não temos nenhum nariz nem qualquer outro órgão olfativo no c.). E veio o papel super, ultra, macio e ultra macio e até o papel neve (talvez para arrefecer o “ânimo”). A Renova inovou, conquistando uma boa fatia de mercado com o papel preto. E só lhe posso encontrar uma explicação para esse sucesso: Quando sentados na sanita nós, seres humanos, em algumas ocasiões sofremos imenso a “fazer força”. Porque há coisas “duras” a deitar cá para fora… De tal forma, que não conseguimos impedir as lágrimas de correr pela face… Ora, como as lágrimas podem ser associadas ao luto, o papel preto faz todo o sentido… A verdade é que a Renova transformou um simples produto de limpar m. num artigo de design e desejo, com cores berrantes e chamativas (como se fosse preciso chamar por alguém…).
Com o intuito de combater alguns problemas de saúde como o tal hemorroidal, foi lançado o “Hemo-Roll”, papel higiénico triplo que foi embebido numa infusão de ervas, para atenuar o problema. Não sei se é eficiente. Nunca usei…
Mas, o grande avanço chegou agora com o papel higiénico “sudoku”, uma forma de educar, entreter e contribuir para a promoção cultural. Assim, se é dos que estão apanhados por esse passatempo que exercita a mente, tome nota: Use o papel higiénico com os quadrados mágicos, que o vão deixar alapado na sanita. Mas não se entusiasme demasiado, para não ficar com a “padaria” colada à “tampa”. Vai passar horas e horas entretido, pondo os neurónios em ação sem que o chateiem (a não ser que precisem de si para arrumar o lixo).
Dizem os entendidos que, estar sentado na sanita, é tempo morto que não deve ser desperdiçado. Daí este passatempo, que faz com que o seu cérebro “vá ao ginásio” sem sair de casa, enquanto você “faz força”. É a associação perfeita entre o exercício físico e o mental…
Claro que existem os detratores da evolução deste artigo. Dizem eles que, quanto mais características tiver o papel, como cor, tintas e perfumes, mais hipóteses nós temos de apanhar uma alergia no “traseiro. Por isso, se é dos que acreditam nos estudos que servem de base a tais teorias e tem medo de ver o seu rabo às pintas, recuse o papel higiénico e volte a usar pedras e barbas de milho…
Há quem diga que a próxima moda nos vai trazer um livro em cada rolo de papel. Isso mesmo. Enquanto está sentado no “tal assento”, toma nas suas mãos o rolo de cultura e vai lendo. Mas tem que ler suficientemente depressa para que a necessidade de limpeza não seja mais “devoradora” de papel do que a capacidade de leitura. Senão, pode perder alguns capítulos do livro, engolidos pela descarga do autoclismo, que não mais recuperará… E não fica a saber o fim da história.
Mas, branco ou às flores, com aroma ou sudoku, preto ou azul, o papel higiénico é imprescindível na nossa vida. Porém, só sabe isso verdadeiramente, quem alguma vez se deu conta que não tinha papel higiénico muito depois de se ter sentado na sanita e ter o “serviço” adiantado. E, depois de olhar à volta e não encontrar um pedacinho de papel, um só por mais pequeno que fosse, ao ver o canudo vazio e admitir ser esse o único material de recurso, é que se dá conta de como é importante o “papel” do papel higiénico, na limpeza do “cais de descarga do tubo de esgoto”, que carregamos sempre connosco…
Todos, sem exceção…