Só a criança ingénua e pura que havia em mim, me fez acreditar que o ser humano era como o vinho do Porto: Ficaria melhor com os anos. Acreditava mesmo que, geração após geração, numa aprendizagem constante, libertava-se dos aspetos negativos e evoluiria, tornando-se mais “humano”. Santa ingenuidade… À medida que os anos passaram e me foi dado conhecer os factos do dia a dia, desapareceu tal ilusão, deixando em seu lugar a certeza de um ser humano que é capaz do melhor e do pior, embora mais instruído, dotado de mais e melhores meios. Nem as guerras entre países, nem as lutas entre vizinhos e famílias, lhe serviram de lição para amaciar o bárbaro e cruel que tem dentro de si e que se vai manifestando aqui e ali, não só na sua relação com os outros seres humanos, como com os animais e o meio ambiente de que é parte integrante mas se julga dono. Quando na crónica anterior escrevi sobre a entrada em vigor da lei onde são reconhecidos os direitos dos animais de companhia ou estimação, não imaginava ter de voltar a este assunto uma semana depois, para manifestar indignação e revolta pelo comportamento de alguns seres humanos. O conhecimento de nova barbaridade pública sobre um cão pacífico, mostra a indiferença pela nova lei por alguns e aos direitos ali consagrados, à sombra da impunidade a que estão habituados. Quando a Teresa me mostrou as fotografias do estado em que a Lady foi encontrada pela Ana e seu pai, senti as lágrimas nos olhos e uma raiva tremenda contra o “animal” que fez tamanha crueldade sobre um ser pacífico e indefeso. Lembrei-me então do que disse a Silvana Lance: “Se os homens fossem um pouquinho mais animais, seriam mais gente”. Na página da Associação Lousada Animal de que é voluntária, a Ana Coelho publicou a notícia:
“Neste momento gostávamos de dizer várias coisas sobre este caso mas, infelizmente, não nos é permitido dizer tudo o que pensamos. Mas uma coisa podemos dizer: Desejamos que a pessoa que fez isto a este pobre animal tenha exatamente as mesmas dores que ela teve. Exatamente o mesmo desespero, exatamente a mesma fome e sede que ela teve durante a semana que esteve naquele buraco.
Esta é a Lady.
A Lady era uma cadela de rua, que tinha muito medo das pessoas. Dá-se muito bem com outros animais mas não com as pessoas. Sempre que um humano se aproximava dela, desatava a fugir sem olhar para trás. E, pelos vistos, sempre teve motivos para não confiar nos seres humanos.
A Lady foi deitada para um buraco no meio de uma quinta para morrer. Foi encontrada com um fio de cabo de aço amarrado ao pescoço e a outra ponta amarrada a umas silvas que lá se encontravam. Esteve naquele buraco durante uma semana ou, se calhar, mais. No momento em que reparamos no estado em que ela estava, caiu-nos o mundo aos pés. A Lady estava muito assustada, muito magra, cheia de fome e sede e, pior que tudo, estava com o pescoço completamente cortado. O desespero da Lady para sair daquele buraco foi tanto, mas tanto, que o fio acabou por dilacerar toda a camada muscular existente na zona do pescoço. E assim, ali ficou a Lady à espera da morte. Da sua morte, lenta e dolorosa…”
A Lady é uma cadela de rua que fazia duma quinta o seu mundo. Estava referenciada e era apoiada pela Ana, tal como a ninhada que tem. E foi nesse apoio continuado que a Ana se apercebeu de que algo de anormal lhe teria acontecido, para desaparecer de repente quando ainda tinha os filhotes a seu cargo. Durante dias procuraram-na por todo o lado sem lhe encontrarem o rasto, para além de um gemido leve que não conseguiam localizar. Só ao fim de uma semana a iriam encontrar naquele buraco, num estado deplorável de que as imagens publicadas na página da Associação dão uma ideia, bem longe do sofrimento a que o pobre animal esteve sujeito. E a Ana continuou:
“Agora a nossa guerreira está bem. Encontra-se internada no Breed – Hospital Veterinário de Paredes, mas terá alta em breve. A zona do pescoço tem uma infeção e terá de fazer pensos diariamente. Mas, tirando isso, a saúde dela está muito bem, o que é de admirar.” E faz um apelo: “Neste momento iremos precisar imenso da vossa ajuda. Iremos precisar de ração, iremos precisar de donativos e, o mais importante, iremos precisar de uma boa família que queira adoptar a nossa Lady quando estiver recuperada”…
Aqui relembro que a Associação Lousada Animal sobrevive à custa do trabalho dos voluntários e dos donativos e contributos destes e de alguns beneméritos, pois não recebe qualquer subsídio público. Não dispõe de canil próprio mas tem “famílias de acolhimento. E já salvou e entregou para adopção muitos animais… Um (pequeno) grande contributo para que tenhamos uma sociedade melhor. Pois, já Gandhi dizia: “A grandeza de uma nação e o seu progresso moral, podem ser avaliados pela forma como trata os seus animais”.
E a Ana acrescentou ainda, num apelo final:
“ESTAS SITUAÇÕES DE PURA MALDADE, TÊM DE ACABAR. As pessoas têm de perceber que os animais sentem dor, fome, medo, tal e qual como os humanos. É inadmissível em pleno século XXI ainda existir todos os dias casos destes.
AJUDE-NOS A FAZER JUSTIÇA, POR TODAS AS LADYS QUE SOFREM TODOS OS DIAS NAS MÃOS DOS HUMANOS!!!”
Cabe a cada um de nós denunciar os “animais” que cometem tais atrocidades porque, “o animal mais perigoso… é o homem”.
E seja solidário. Vá ao multibanco e dê um pouco de si, por muito pouco que seja, para ajudar a salvar a Lady e outras Ladys deste “mundo cão”…
Deposite o donativo no IBAN: PT50 0045 1325 40272039328 93