Ando com uma dúvida: Não sei se estou em luta contra o desperdício ou se me tornei num forreta. Depende do ponto de vista. O último acontecimento que me tem deixado a pensar nisso e a ficar “como o tolo no meio da ponte”, tem a ver com a pasta de dentes. Isso mesmo, o meu tubo da pasta de dentes. Já há mais de quinze dias que está praticamente no fim e todas as noites, antes de me deitar, espremo daqui e dali e empurro com os dedos até conseguir tirar mais um bocadinho de pasta, a necessária e suficiente para lavar o “corta palha”. Nem mais, nem menos. E ainda deve dar para hoje… Sempre achei um desperdício cobrir todos os pelos da escova com um “cordão” de pasta. Mal se mete na boca, logo na primeira escovadela mais de metade cai no lavatório. Não há volta a dar. Para quê pôr um “tutano” tão comprido se a maior parte vai pelo esgoto abaixo? Ou teremos também de lavar o esgoto sempre que lavamos os dentes? Claro, é isso que os fabricantes querem…
Tendo sido integrado numa nova empresa resultante da fusão de várias, pelas minhas novas funções tive de participar numa formação em marketing. Entre outros, um dos exemplos que lá foi referido para definir que o marketing é qualquer procedimento que contribui para a subida das vendas de uma empresa, dizia precisamente respeito a uma grande marca de pasta dentífrica. A empresa organizou um concurso de ideias entre os empregados, com o objetivo de aumentar a faturação e, das muitas propostas apresentadas, a escolhida sugeria simplesmente isto: “Aumente-se o diâmetro da boca da bisnaga”. Como toda a gente põe sempre o mesmo comprimento de fio de pasta na escova, ao ser aumentado o diâmetro desse “tutano” em dois ou três milímetros, algo de que ninguém se apercebe, os cento e vinte e cinco gramas de pasta da bisnaga “vão-se à vida enquanto o diabo esfrega um olho”, indo uma boa parte pelo esgoto abaixo. Verdade? Ou alguém pesa a quantidade de pasta que põe na escova?
Se pensarmos bem, isso também acontece com o gel usado nos lavatórios. Damos duas ou três “bombadas” com uma das mãos enquanto aparamos com a outra e, ao começarmos a ensaboar, metade do gel… vai para o esgoto. A quem aproveita? A quem produz e a quem vende. Só… Ora, luto contra isso. Cá por mim, ponho o suficiente para ensaboar, nada mais.
Até para limpar e secar as mãos aprendi um truque para reduzir gastos. Depois de lavar as mãos, sacudo-as várias vezes sobre o lavatório e com isso retiro a maior parte da água. Molho muito menos a toalha ou gasto um terço dos toalhetes. Será forretice ou combate ao desperdício? A dúvida persiste.
A água potável é um bem essencial à vida, que não valorizamos. Nada. Todos temos acesso fácil à água, se calhar fácil demais. Está somente à distância do abrir de uma torneira. Muito fácil mesmo. Quando garoto, o acesso à água era mais complicado. As mulheres tinham de ir buscar água à fonte num cântaro de barro, transportado à cabeça até casa… quando não partia. E algumas fontes estavam distantes. Mais tarde passaram a tirar a água do poço, com o sarilho e um balde. Hoje, ter água é um dado adquirido e pode-se esbanjar à vontade que não há problema. Porque, sempre que se abre a torneira, a água corre. E se não correr? Reclama-se com a Câmara Municipal, com o governo ou com a mulher que, em último caso, é a culpada. Ao outro dia a torneira volta a jorrar água como se nunca tivesse faltado. E quando chegarmos ao outro dia e continuar a não haver água? E quando for racionada ou tivermos de lutar por ela? Depois se verá, não é verdade? Enquanto não chegar esse dia, vamo-nos dando ao luxo de desperdiçar, porque, desperdiçar é um luxo que gostamos de nos permitir. Se pouparmos, não vamos salvar o mundo? Claro que não, mas contribuímos. É um desperdício abrir a torneira com o jato na pressão máxima, salpicando tudo à volta. Para quê? Permitimo-nos desperdiçar água estupidamente, como se não tivesse valor. Mas tem e só daremos conta disso quando não houver. Como acontece a milhões e milhões de pessoas por esse mundo fora… Eu lavo as mãos com pouca água, a suficiente para ensaboar e enxaguar. No total, gasto menos de um copo… Só tenho dificuldade com as torneiras de mono comando, são difíceis de regular. Ou deitam jato forte ou fecham, o meio termo não é fácil. Por isso, abaixo as torneiras de mono comando… No banho também se estraga muita água. Em média, gasta-se cinquenta a oitenta litros por banho. Há quem cante, ensaboe, enxagúe, volte a ensaboar, enxagúe, aplique champô, enxagúe, use amaciador, continue a cantar, enxagúe, sempre com a água a correr. Às vezes até se faz a barba pelo meio, espremem borbulhas ou cortam-se as unhas… com a água a correr. Será isto desperdício ou eu é que sou forreta por fechar a torneira quando me ensaboo e por gastar menos de dez litros por banho?
Mas se o esgoto é o ponto por onde se desperdiça água em barda, o caixote do lixo é outra porta para o desperdício de algo que também nos é indispensável: Bens alimentares. Todos os dias vão parar ao lixo toneladas e toneladas de alimentos, de forma irresponsável, quando não intencional e criminosa. Porque são bens que fazem falta a muitos outros seres humanos. No nosso egoísmo, na estupidez das nossas vaidades, na arrogância dos exibicionismos, estragamos, destruímos, deitamos fora e desperdiçamos toneladas e toneladas de alimentos, que alterariam a vida de tantas pessoas ao passarem do “não ter nada para comer” para “ter alguma coisa para comer”. Uma diferença que faz toda a diferença. Ou será que a nossa indiferença não nos permite lutar por essa diferença?
Por tudo isto e muito mais, estou numa atitude de combate ao desperdício, uma incumbência que deveria ser de todos. Ou estarei enganado e não passo de um forreta disfarçado?????????
Ando com uma dúvida: Não sei se estou em luta contra o desperdício ou se me tornei num forreta. Depende do ponto de vista. O último acontecimento que me tem deixado a pensar nisso e a ficar “como o tolo no meio da ponte”, tem a ver com a pasta de dentes. Isso mesmo, o meu tubo da pasta de dentes. Já há mais de quinze dias que está praticamente no fim e todas as noites, antes de me deitar, espremo daqui e dali e empurro com os dedos até conseguir tirar mais um bocadinho de pasta, a necessária e suficiente para lavar o “corta palha”. Nem mais, nem menos. E ainda deve dar para hoje… Sempre achei um desperdício cobrir todos os pelos da escova com um “cordão” de pasta. Mal se mete na boca, logo na primeira escovadela mais de metade cai no lavatório. Não há volta a dar. Para quê pôr um “tutano” tão comprido se a maior parte vai pelo esgoto abaixo? Ou teremos também de lavar o esgoto sempre que lavamos os dentes? Claro, é isso que os fabricantes querem…
Tendo sido integrado numa nova empresa resultante da fusão de várias, pelas minhas novas funções tive de participar numa formação em marketing. Entre outros, um dos exemplos que lá foi referido para definir que o marketing é qualquer procedimento que contribui para a subida das vendas de uma empresa, dizia precisamente respeito a uma grande marca de pasta dentífrica. A empresa organizou um concurso de ideias entre os empregados, com o objetivo de aumentar a faturação e, das muitas propostas apresentadas, a escolhida sugeria simplesmente isto: “Aumente-se o diâmetro da boca da bisnaga”. Como toda a gente põe sempre o mesmo comprimento de fio de pasta na escova, ao ser aumentado o diâmetro desse “tutano” em dois ou três milímetros, algo de que ninguém se apercebe, os cento e vinte e cinco gramas de pasta da bisnaga “vão-se à vida enquanto o diabo esfrega um olho”, indo uma boa parte pelo esgoto abaixo. Verdade? Ou alguém pesa a quantidade de pasta que põe na escova?
Se pensarmos bem, isso também acontece com o gel usado nos lavatórios. Damos duas ou três “bombadas” com uma das mãos enquanto aparamos com a outra e, ao começarmos a ensaboar, metade do gel… vai para o esgoto. A quem aproveita? A quem produz e a quem vende. Só… Ora, luto contra isso. Cá por mim, ponho o suficiente para ensaboar, nada mais.
Até para limpar e secar as mãos aprendi um truque para reduzir gastos. Depois de lavar as mãos, sacudo-as várias vezes sobre o lavatório e com isso retiro a maior parte da água. Molho muito menos a toalha ou gasto um terço dos toalhetes. Será forretice ou combate ao desperdício? A dúvida persiste.
A água potável é um bem essencial à vida, que não valorizamos. Nada. Todos temos acesso fácil à água, se calhar fácil demais. Está somente à distância do abrir de uma torneira. Muito fácil mesmo. Quando garoto, o acesso à água era mais complicado. As mulheres tinham de ir buscar água à fonte num cântaro de barro, transportado à cabeça até casa… quando não partia. E algumas fontes estavam distantes. Mais tarde passaram a tirar a água do poço, com o sarilho e um balde. Hoje, ter água é um dado adquirido e pode-se esbanjar à vontade que não há problema. Porque, sempre que se abre a torneira, a água corre. E se não correr? Reclama-se com a Câmara Municipal, com o governo ou com a mulher que, em último caso, é a culpada. Ao outro dia a torneira volta a jorrar água como se nunca tivesse faltado. E quando chegarmos ao outro dia e continuar a não haver água? E quando for racionada ou tivermos de lutar por ela? Depois se verá, não é verdade? Enquanto não chegar esse dia, vamo-nos dando ao luxo de desperdiçar, porque, desperdiçar é um luxo que gostamos de nos permitir. Se pouparmos, não vamos salvar o mundo? Claro que não, mas contribuímos. É um desperdício abrir a torneira com o jato na pressão máxima, salpicando tudo à volta. Para quê? Permitimo-nos desperdiçar água estupidamente, como se não tivesse valor. Mas tem e só daremos conta disso quando não houver. Como acontece a milhões e milhões de pessoas por esse mundo fora… Eu lavo as mãos com pouca água, a suficiente para ensaboar e enxaguar. No total, gasto menos de um copo… Só tenho dificuldade com as torneiras de mono comando, são difíceis de regular. Ou deitam jato forte ou fecham, o meio termo não é fácil. Por isso, abaixo as torneiras de mono comando… No banho também se estraga muita água. Em média, gasta-se cinquenta a oitenta litros por banho. Há quem cante, ensaboe, enxagúe, volte a ensaboar, enxagúe, aplique champô, enxagúe, use amaciador, continue a cantar, enxagúe, sempre com a água a correr. Às vezes até se faz a barba pelo meio, espremem borbulhas ou cortam-se as unhas… com a água a correr. Será isto desperdício ou eu é que sou forreta por fechar a torneira quando me ensaboo e por gastar menos de dez litros por banho?
Mas se o esgoto é o ponto por onde se desperdiça água em barda, o caixote do lixo é outra porta para o desperdício de algo que também nos é indispensável: Bens alimentares. Todos os dias vão parar ao lixo toneladas e toneladas de alimentos, de forma irresponsável, quando não intencional e criminosa. Porque são bens que fazem falta a muitos outros seres humanos. No nosso egoísmo, na estupidez das nossas vaidades, na arrogância dos exibicionismos, estragamos, destruímos, deitamos fora e desperdiçamos toneladas e toneladas de alimentos, que alterariam a vida de tantas pessoas ao passarem do “não ter nada para comer” para “ter alguma coisa para comer”. Uma diferença que faz toda a diferença. Ou será que a nossa indiferença não nos permite lutar por essa diferença?
Por tudo isto e muito mais, estou numa atitude de combate ao desperdício, uma incumbência que deveria ser de todos. Ou estarei enganado e não passo de um forreta disfarçado?????????