A riqueza produzida anualmente por um país é indicada por uma sigla: PIB – Produto Interno Bruto, e o primeiro indicador utilizado para ver a qualidade de vida desse país é o PIB per capita, isto é, o PIB a dividir pela população, o que nem sempre é fiável, sobretudo quando são poucos a terem muito e muitos a terem pouco. Igualmente é comum dizer-se que um homem é rico quando tem em abundância, muito dinheiro, valores mobiliários e imobiliários.
É o sonho de tanta gente, chegar lá, às vezes não olhando a meios para atingir os fins. Mas será?
Ao contrário do resto do mundo, o reino do Butão, um pequeno país situado junto aos Himalaias entre a China e a Índia, mede o seu progresso e riqueza por um outro índice: FIB – Felicidade Interna Bruta.
Fechados ao progresso tecnológico, sem indústria, mantêm os seus hábitos, tradições e modo de vida de geração em geração, evitando serem “contaminados” pelo desenvolvimento como o conhecemos, preocupados com a felicidade e o bem estar espiritual dos seus habitantes, votados ao isolamento e à reflexão.
Afinal quem estará certo, o reino do Butão ou o resto do mundo. A riqueza maior deverá ser avaliada pelo índice de felicidade ou por se ter mais ou menos bens? O Tio Patinhas, personagem da banda desenhada, é a figura caricatural do acumulador de riqueza em que esta é uma fonte de preocupações sendo uma delas aumentá-la permanentemente, enquanto se esquece de tirar partido dela. Ao longo da minha vida conheci gente com muito, com pouco ou com nada, numa escala de montantes tão diferenciada quanto extensa. E ainda hoje me questiono qual o mais rico com que me cruzei nesta caminhada.
O senhor Abílio do Abel era trolha de profissão e pode dizer-se que nada mais tinha para além dos filhos. Durante muitos anos, duma janela da casa dos meus pais, via-o passar rua abaixo, ao entardecer dos dias quentes de verão, a tocar viola e com os miúdos aos saltos atrás dele, numa mistura de música e alegria. Seria ele um homem pobre ou antes um homem rico com pouco dinheiro?
Em contraponto, lembro de um grande proprietário, possuidor de muitos imóveis dos quais era mais escravo que dono. Tinha bens mas não tinha rendimentos e como se recusava a vender fosse o que fosse, pedia dinheiro emprestado para viver, em condições inconcebíveis para um ser humano e muito menos para alguém com tantos meios. Seria ele um homem rico ou antes um homem pobre com muito dinheiro?
E todo este arrazoado ocorreu-me ao lembrar-me de alguém a quem o ceifeiro da vida colheu extemporaneamente, praticante de um modo de viver que muitas vezes invejei e me dava que pensar. Conheci-o já adolescente trazido pelo Jaime Moura, para trabalhar connosco no Clube Automóvel de Lousada. Versátil em línguas, excelente relações públicas, com a sua humildade e simplicidade rapidamente se tornou uma das figuras mais populares e queridas do meio automobilístico em que o Clube se movimentava, em Portugal e no estrangeiro, do Minho ao Algarve, de Portugal à Lituánia.
Foi um companheiro de inúmeras viagens em Portugal e para o estrangeiro em representação do CAL, comigo e com o Jaime Moura, tirando partido e usufruindo de cada uma com um prazer enorme. Sempre disponível para partir, pronto para ser útil e servir, foi uma ajuda inestimável para centenas de pilotos, com quem se preocupava como de alguém muito próximo. Tornou-se, nas palavras do norueguês Richard Stoen, “o rosto do Clube Automóvel de Lousada”.
De família humilde, foi sempre parco em recursos, mas viveu com uma intensidade rara, aproveitando todas as oportunidades que a vida lhe foi oferendo, fazendo amigos, viajando, conhecendo, enriquecendo-se. Com pouco viveu muito, como se adivinhasse que o seu amanhã não existiria. Usufruiu sempre de tudo o que pôde ao longo da “viagem” sem se preocupar com a “chegada”, como pai, como marido, como amigo, como caminhante da vida, como viajante, como ser humano. Deixou saudades, muitas saudades, entre a família, entre os muitos amigos e até simples conhecidos.
Sem qualquer dúvida que o Paulo Sérgio foi um HOMEM RICO, com pouco dinheiro.